Chegada na Ilha


Vista noturna de Havana

Cuba, já no início do século XX, era usada como balneário, principalmente pelos americanos. E não sem motivo. A ilha, a maior do Caribe, tem incomparáveis belezas naturais. Há na história caso de várias pessoas que se encantaram irremediavelmente por Cuba, como Ernest Hemingway. As lendas dessas paixões sempre correram o mundo. Desde o final dos anos 80 o país viu minguar a mesada soviética. Por que perder essa oportunidade de obter algum lucro com o que estava ali, dando sopa e de graça? Não, lucro não. Nada a ver. Seria exploração da mais-valia da natureza. Bom, daí começaram a ensaiar com os turistas do bloco comunista europeu, depois vieram as grandes redes hoteleiras, a coisa foi tomando uma cara profissional, e hoje a demanda é alta e só tende a crescer.

Oficialmente Cuba é dos últimos países comunistas -ou socialistas, como queiram- , do mundo. É claro que isso desperta curiosidade em muita gente que escolhe o país como destino. Para não quebrar essa fantasia, na chegada ao aeroporto José Martí, há quem ache que existe uma exagerada burocracia na aduana. Mas, depois do que se testemunhou nos aeroportos americanos pós-11 de setembro, ouvir dos oficiais perguntas tipo, como é seu nome, onde vai ficar, nem mesmo o pedido pra olhar pra uma suposta câmera na parede da cabine, desperta o menor suspense. Nem nessa hora os cubanos conseguem disfarçar a natural simpatia. Revolucionário leva desaforo pra casa? Leva. Vi uma velhinha de uns 80 anos dar um esporro num oficial que a havia mandado voltar pra fila de espera na alfândega, só por que ela tinha se adiantado e queria entrar na cabine junto com a netinha. Nem o aspecto sorumbático que o racionamento de energia deixou o aeroporto de Havana, faz com que se espere o pior.

Já com os pés fora do aeroporto descobri que tenho um clone em Havana. Ele se chama Toni. Infelizmente não o conheci. Mas sei que ele é o melhor amigo do motorista do ônibus que nos levou até o hotel. Rolava uma carona grátis se eu já não tivesse pago o transfer desde o Brasil. Não se pode prever tudo.

No estacionamento do aeroporto os táxis são novos. Franceses ou coreanos. Os ônibus que fazem o transporte dos turistas são chineses. Tudo novo, com DVD passando filme pirata de Jet-Li, ainda na fase pré-roliúdi. Na poltrona da frente, um casal brasileiro. A mulher, uma das maurícias que fez parte do levante contra a nhaca dos árabes no avião da Copa, falou com um certo desdém de paulista: “Nõaasssa, agora vai ser uma volta de 50 anos no têimpo”. Eu já tava de saco cheio com a afetação da cidadã. Na estrada, no escuro da madrugada, cruzamos com as primeiras banheiras americanas, como espectros automobilísticos que fazem aquele mesmo caminho. Naquela hora tive que concordar – em parte – com a Dona Maurícia.

2 COMENTE AQUI:

Tomás Bueno disse...

“Nõaasssa, agora vai ser uma volta de 50 anos no têimpo”
Krai, como eu odeio esses "povo". Acho que é por causa de comentários como esses que eu odeio excursões.

Lembranças a Fidel.

Léo Villanova disse...

É dose mesmo, Thomas.
A Dona Maurícia realmente estava indo pra uma excursão, pra Varadero, a Cuba pra turista ver. Eu e Laura fugimos disso e ficamos pra ver a Cuba real.

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