Hasta la victoria, siempre

Ángel Matos esbanja estilo e precisão no chute (FOTO: Matt Dunham)

Eu, como praticante de artes marciais, fui quase que doutrinado a seguir um preceito: “respeito acima de tudo”. Isso vale principalmente dentro de um koto (área de luta), onde o árbitro deve ser tão respeitado como seu mestre no dojo (academia). Se isso valesse pra todos os esportes, no futebol, por exemplo, aos juízes dificilmente seria dispensado o tradicional tratamento de ‘filhadaputa’ ou ‘ladrão’. É um exercício de humildade que, definitivamente, é uma das características humanas que os cubanos acreditam estar mais próxima da submissão que da sabedoria.

Um fato que vai ficar registrado na história das Olimpíadas de Pequim foi a agressão do lutador cubano de tae-kwon-do Ángel Valodia Matos ao árbitro sueco Chakir Chelbat, que o desclassificou na disputa pelo bronze. Matos, que vencia a luta por 3 a 2, fraturou um dedo do pé e pediu atendimento médico. Chelbat decidiu encerrar o combate sem advertência prévia ao atleta de Cuba, dando imediatamente a vitória ao oponente do Cazaquistão. Foi aí que se armou a quizumba cubana, com insultos, ameças, culminando nas vias de fato com um sensacional chute invertido de Matos na cara do juiz. Sobrou ainda pra outro árbitro da turma do deixa-disso que levou um soco no peito.

Atitude antidesportiva? Certamente. Mas o que esperar de alguém que foi educado a não se deixar ser garfado por ninguém só por que é um preto e pobre do penúltimo mundo. Altivos assim, mas não ao ponto radical de Matos, foram os cubanos que encontrei na Ilha. Não vi a luta pelo bronze mas vibrei com a perfeição do golpe na cara do juiz, que, pelo nome, dá pra notar que nem sueco puro sangue é.

Lição olímpica: espírito vencedor é quase a mesma coisa que ousadia. Como condenar um cara que brigou até o fim pela vitória justa? Pena que ele foi um tanto literal nessa briga.

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